quinta-feira, 30 de abril de 2009

DONA ELETRICINA


Hoje eu me lembrei da senhora. Daquele dia. Eu havia me esmerado, aperfeiçoando a pontaria, minha baladeira estava no ponto, no capricho, para atingir o alvo, que era a sua janela marron, de pintura totalmente desbotada.
A hora era a hora precisa, para minha travessura, já que logo após o almoço, todos os burgueses costumam cochilar com a pança cheia da agonia da vida: era a hora precisa...ora se era. Acordar sua inocente loucura me dava uma certa satisfação pessoal, na proibição excessiva e burra,em que os garotos daquela época viviam, de não poder sequer pronunciar uma porra, em quaisquer que fossem os ambientes: público ou privado (ou até mesmo na privada), pois o temor de alguém ouvir e a rígida correção, que certamente viriam, eram aterrorizantes.
A baladeira no ponto, a pedra -cuidadosamente -escolhida. Era o ápice do meu crime juvenil, meu coração se desritimava e acelerava corajosamente, sabedor que eu era da repercussão, que a concretização do meu ato provocaria entre a molecada do bairro.
Prendi a respiração e puuuuuuum. Acertei o alvo em cheio. A janela se abriu e a senhora vomitou os palavrões mais bem ditos(benditos?), saidos de sua total falta de lucidez, da sua doidice incurável.
A janela rapidamente, fechou-se, depois do festival de sacanagens exibido, com a força e a certeza, de quem está sendo escutado, por ouvidos atentos e curiosos.
Dentre as peladas (ou cabeludas) proferidas, eu até então, não tinha conhecimento da palavra pívidia, com que todas as mães foram homenageadas:" vai jogar pedra na pívidia da tua mâe", só algum tempo depois entendi o significado da palavra, usada no Inteiror do Estado, fora do significado principal e de forma pejorativa, mas mesmo assim, Dona Eletricina, jamais me revoltei, em dar o troco a alguém.
Aproximei-me vagarosamente, da janela, para ouvir o que a sua velha loucura cínica resmungava, quando fui flagrado, espiando a intimidade do seu terraço. Fui agarrado, por sua mão tresloucada e arrastado, para dentro da casa, com a fúria insaciável dos loucos.
A sentença foi patética, a afirmação da senhora havia me encucado: "vou fritar alguns ovos para você comer...". A minha admiração e indagação sairam na mesma intensidade, com que recebí a sentença pela peraltice. Por quê ovos fritos?
A resposta entresticida, angustiada, dócil, serena, convicta e racional surgiu fulminante: "é porque, somente quando, os meninos vadios atiram pedras na minha janela, alguém me dá
atenção e eu tenho contato, com os que se dizem normais".
" Comendo ovos, você com certeza, terá mais vigor, mais força, para atirar pedras na minha janela e me tirar da alucinante solidão em que vivo e voltar a este mundo insensato e ridículo e....prazeirozamente, xingar a todos".
Dona Eletricina! HOJE EU ME LEMBREI DA SENHORA. DAQUELE DIA. É QUE ATIRARAM UMA PEDRA NA MINHA JANELA.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O Mais Lindo do Amor





























Tua ingenuidade...




Tua espontaneidade...




Tua vivacidade...




Me iluminou




O mais lindo do amor.








A tua fantasia...




Do "quando eu crescer"




Do "faz de conta"




Do sacy-pererê




Me reciclou a vida




E eu voltei a sonhar




E eu me remocei a viver.








Te contar estórias




Cumpliciando carinho




E dormir sorrindo




Me presenteou




O mais lindo do amor.








O teu sorriso...




Meigo,




Escancarado




E infantil




Refletiu...




A amizade,




A sinceridade




E a paternidade




Com que DEUS




Nos uniu.












Estes versos foram dedicados a minha filha CAROLINA, quando dos seus 06(seis) anos de idade.

O MAIS LINDO DO AMOR

Tua ingenuidade...

Tua espontaneidade...

Me iluminou

O mais lindo do amor



A tua fantasia...

Do "quando eu crescer"

Do "faz de conta"

Do sacy-pererê

Me reciclou a vida

E eu voltei a sonhar

E eu me remocei a viver.



Te contar estórias

Cumpliciando carinho

E dormir sorrindo

Me presenteou

O mais lindo do amor.



O teu sorriso...

Meigo,

Escancarado

E infantil

Refletiu...

A amizade,

A sinceridade

E a paternidade

Com que DEUS

Nos uniu.





Estes versos foram dedicados

domingo, 26 de abril de 2009

O ARAME E O CAPIM


O arame.....farpado.
O capim.....seco.
As mãos.....vazias.

O arame.....limita.
O capim.....inflora.
O patrão..... enriquece.

O arame....aumenta.
O capim..... cresce.
A fome.....amadurece.

O arame.....afasta.
O capim.....devasta.
O trabalho.....carece.

O arame .....fere.
O capim..... perece.
O homem.....entristece.


Esta poesia faz parte da Antologia "Palavra Descalça" - Edições MUIRAQUITÃ -Lajeado-RS.

RESPOSTA DE BOÊMIO.


Você...
Me chamou
De boêmio
De bêbado
De coruja
De tetéu
De vigília do pernoite.

Porém...
Não fui eu...
Pobre e inocente notívago
Quem pariu a noite
Quem inventou o copo
Nem nenhuma canção
Ou quem criou...
O som do violão.

Pois...
Se sobrevivo eu
Nesta santa boêmia
Até me estorpir de cansaço
É que eu procuro a emoção
Que não achei...
Nos seus braços.
(Esta resposta foi para uma certa namorada, obviamente antes de conhecer Evelir Maria, o grande amor da minha vida).

BASTIÃO


Te aguenta Bastião
Que aí vem chumbo grosso
Aguenta bem a cabeça
Para não cair do pescoço.

Rosinha de Mané Cipó
Morreu com dois anos de fome
De que adinta vitamina
Para menino que não come.

Maria Helena da Silva
Teve um futuro mais feliz
Se tocou para São Paulo
Para se tornar meretriz.

Te aguenta Bastião
Que aí vem chumbo grosso
Aguenta bem a cabeça
Para não cair do pescoço.

Georgina de Nhô Cosmo
Pariu mais um flagelado
Nasceu babando de fome,
Mas teve padim deputado.

Teodomiro se assanhou
com a proposta de Osmar
Vender até a enxada
Para ir para o Rio assaltar

Te aguenta Bastião
Que o Nordeste vai transbordar
"O mar vai virar sertão
E o sertão vai virar mar"

PERCEPÇÃO

rcepç
Vejo,
Em teus olhos
Algo de afável
A se combinar comigo.

Ouço,
Em teus gestos
Algo de sustenível
A se musicar comigo.

Calo,
Em tua voz
Algo de inaudível
A se conversar comigo.

Penso,
Em te conteúdo
Algo de incompreensível
A se comunicar comigo.

Não...
Não sei se te amo...
Mas só sei...
Que te sinto, em todos os sentidos.

Esta poesia faz parte da Antologia "Valores Literários do Brasil", Volume VI, 1987, selecionados pela REVISTA BRASÍLIA - Brasília - DF.